Timor Leste e Língua Oficial
"Penosa matéria obrigatória em um novo país: Língua Portuguesa DILI, Timor Leste - O ruído de um gerador e o chiado de ventiladores de teto abafaram as palavras calmas de um juiz, que fazia perguntas a uma testemunha em um julgamento de assassinato durante uma tarde quente.
Mas mesmo se tivesse sido possível escutá-lo, a maioria das pessoas espalhadas pela pequena sala do tribunal, inclusive o réu e a testemunha, não teriam entendido o que ele dizia.
O juiz estava falando em português, a mais nova língua a ser usada nos tribunais, escolas e no governo - uma língua que a maioria das pessoas no Timor Leste não fala.
As línguas mais faladas na outrora colônia portuguesa são o tétum, língua dominante, e indonésio, a língua do gigante vizinho do Timor Leste.
Por um quarto de século, o português foi aí uma língua morta, falada somente pelas gerações mais velhas. A língua foi banida após a Indonésia ter anexado o Timor Leste ao seu território em 1975, e ter imposto aos timorenses seu próprio idioma.
Em uma confusa reviravolta, uma nova Constituição impôs novamente a língua portuguesa, logo após o Timor Leste ter conquistado sua independência em 2002. Então, os marginalizados se tornaram novamente a tendência, e vice versa.
A conveniência lingüística foi sacrificada pela política e pela emoção. Em um país que nunca foi governado por si próprio e que tem tão poucos símbolos de coesão nacional, essa língua de resistência aos colonizadores indonésios era um emblema - particularmente para a geração mais antiga – de liberdade e de identidade nacional.
A escolha trouxe um emaranhado de complicações, privando de direitos civis a toda uma geração de falantes do indonésio e introduzindo uma nova barreira lingüística em meio a tantos outros problemas já enfrentados pelo país.
Além de trabalhar para prover saúde, educação, serviços públicos, emprego e até mesmo comida para seu povo, o Timor Leste está envolvido agora em um tortuoso caminho de aprendizagem de sua própria língua oficial, tendo de importar vários professores de Portugal para ajudarem nessa tarefa.
"Eu já conclui dois níveis de português, mas ainda não falo muito bem, somente português básico," disse Zacharias da Costa, de 36 anos, um professor de Gerenciamento de Conflitos da Universidade Nacional do Timor Leste.
Dentro de cinco anos, de acordo com o planejamento do governo, ele terá de lecionar todas suas aulas em português, uma língua que dificilmente é escutada no campus.
Em um quadro de avisos na entrada do campus, há quatorze recados deixados por professores. Oito escritos em tétum, quatro em indonésio e dois em inglês. Nenhum está escrito em português.
Por mais estranho que pareça, a experiência do Timor Leste não é incomum, disse Robert B. Kaplan, um antigo co-editor do periódico 'Current Issues in Language Planning'.
A imposição de novas línguas nacionais acontece quando países são colonizados e também quando são descolonizados, disse ele. Às vezes, como no caso do Timor Leste, isso acontece pela segunda vez quando o país é novamente descolonizado.
Os problemas de língua no Timor Leste são os mesmos de muitos países que tornam decreto a mudança de língua, complicando a rotina diária do país e separando o povo de sua história e literatura, a qual foi escrita no que talvez vá se tornar uma 'língua alienígena'.
No Azerbaijão, por exemplo, uma ex-república socialista soviética que agora é completamente independente, uma simples mudança no alfabeto, do cirílico para o romano, criou uma nova classe de 'analfabetos'.
Os tribunais do Timor Leste estão entre as instituições mais afetadas. Traduções entre português, tétum e indonésio levam a um jogo de telefones que acarreta na freqüente distorção dos depoimentos.
Durante eleição parlamentar recém-completada, as coletivas de imprensa eram ministradas em quatro línguas, muitas vezes produzindo diferentes versões da notícia.
No 'Timor Post', um jornal em língua inglesa, jornalistas disseram que não conseguiam ler as declarações do governo em português, então eles as ignoravam.
O número relatado de falantes do português em Timor Leste varia muito, talvez devido aos diferentes critérios para definir a fluência e talvez ainda por causa dos efeitos dos atuais programas de treinamento na língua.
A ONU relatou em 2002 que somente 5% da população que é de 800.000 pessoas
falava português. No censo de 2004, 36% alegaram ter "aptidão para o português", disse Kerry Taylor-Leech, lingüista da Universidade de Griffith na Austrália, que escreve sobre as línguas do Timor Leste. "Desde a década de 90, pode-se perceber que uma mudança de língua está acontecendo," ela disse "As mudanças em relação ao que eu já vi estão acontecendo bem rapidamente."
De acordo com o censo, 85% dizem ter aptidão para o tétum, 58% para o indonésio e 21% para o inglês.
A nova Constituição estabelece o português e o tétum como as duas línguas oficiais do país, mas tétum é visto como uma língua não desenvolvida e pouco rebuscada (thin), e a maioria dos negócios oficiais do país é conduzida em português.
"Esta é uma decisão política e eu tenho que acatar, quer eu goste ou não," disse a juíza Maria Pereira, funcionária do tribunal do distrito de Dili, que fez um curso intensivo e agora escreve suas sentenças no que ela chama de um português bem razoável. "Eu não tenho escolha. Como juíza, eu tenho que cumprir a lei".
Alguns jovens falantes de indonésio, que a princípio se opuseram ao uso do português, agora dizem adotar a nova língua como forma de enriquecer e desenvolver o tétum. Cerca de 80% do tétum já é composto de palavras emprestadas ou influenciadas pelo português, disse a Sra. Taylor-Leech, embora ela diga que, falar português, dificilmente levará a um aumento deste número.
Outra abordagem vem do presidente José Ramos - Horta, um dos autores da lei referente à língua portuguesa. "Nós temos que repensar nossas políticas com relação à língua", disse ele em entrevista por telefone.
Em um primeiro passo, disse ele, o inglês e o indonésio deveriam se juntar ao português e ao tétum como línguas oficiais. "Eu não vejo problema algum em um país ter quatro línguas oficiais."
Mas o seu plano não para por aí, dando a entender que questões sobre a língua poderiam ocupar o país nos anos que estão por vir.
Assim que eles estivessem acostumados às quatro línguas oficiais, disse ele, "Nós podemos dar ao povo a opção de escolher duas delas como obrigatórias."
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A versão em português me foi passada no groups.yahoo.com/group/CVL/
Mas mesmo se tivesse sido possível escutá-lo, a maioria das pessoas espalhadas pela pequena sala do tribunal, inclusive o réu e a testemunha, não teriam entendido o que ele dizia.
O juiz estava falando em português, a mais nova língua a ser usada nos tribunais, escolas e no governo - uma língua que a maioria das pessoas no Timor Leste não fala.
As línguas mais faladas na outrora colônia portuguesa são o tétum, língua dominante, e indonésio, a língua do gigante vizinho do Timor Leste.
Por um quarto de século, o português foi aí uma língua morta, falada somente pelas gerações mais velhas. A língua foi banida após a Indonésia ter anexado o Timor Leste ao seu território em 1975, e ter imposto aos timorenses seu próprio idioma.
Em uma confusa reviravolta, uma nova Constituição impôs novamente a língua portuguesa, logo após o Timor Leste ter conquistado sua independência em 2002. Então, os marginalizados se tornaram novamente a tendência, e vice versa.
A conveniência lingüística foi sacrificada pela política e pela emoção. Em um país que nunca foi governado por si próprio e que tem tão poucos símbolos de coesão nacional, essa língua de resistência aos colonizadores indonésios era um emblema - particularmente para a geração mais antiga – de liberdade e de identidade nacional.
A escolha trouxe um emaranhado de complicações, privando de direitos civis a toda uma geração de falantes do indonésio e introduzindo uma nova barreira lingüística em meio a tantos outros problemas já enfrentados pelo país.
Além de trabalhar para prover saúde, educação, serviços públicos, emprego e até mesmo comida para seu povo, o Timor Leste está envolvido agora em um tortuoso caminho de aprendizagem de sua própria língua oficial, tendo de importar vários professores de Portugal para ajudarem nessa tarefa.
"Eu já conclui dois níveis de português, mas ainda não falo muito bem, somente português básico," disse Zacharias da Costa, de 36 anos, um professor de Gerenciamento de Conflitos da Universidade Nacional do Timor Leste.
Dentro de cinco anos, de acordo com o planejamento do governo, ele terá de lecionar todas suas aulas em português, uma língua que dificilmente é escutada no campus.
Em um quadro de avisos na entrada do campus, há quatorze recados deixados por professores. Oito escritos em tétum, quatro em indonésio e dois em inglês. Nenhum está escrito em português.
Por mais estranho que pareça, a experiência do Timor Leste não é incomum, disse Robert B. Kaplan, um antigo co-editor do periódico 'Current Issues in Language Planning'.
A imposição de novas línguas nacionais acontece quando países são colonizados e também quando são descolonizados, disse ele. Às vezes, como no caso do Timor Leste, isso acontece pela segunda vez quando o país é novamente descolonizado.
Os problemas de língua no Timor Leste são os mesmos de muitos países que tornam decreto a mudança de língua, complicando a rotina diária do país e separando o povo de sua história e literatura, a qual foi escrita no que talvez vá se tornar uma 'língua alienígena'.
No Azerbaijão, por exemplo, uma ex-república socialista soviética que agora é completamente independente, uma simples mudança no alfabeto, do cirílico para o romano, criou uma nova classe de 'analfabetos'.
Os tribunais do Timor Leste estão entre as instituições mais afetadas. Traduções entre português, tétum e indonésio levam a um jogo de telefones que acarreta na freqüente distorção dos depoimentos.
Durante eleição parlamentar recém-completada, as coletivas de imprensa eram ministradas em quatro línguas, muitas vezes produzindo diferentes versões da notícia.
No 'Timor Post', um jornal em língua inglesa, jornalistas disseram que não conseguiam ler as declarações do governo em português, então eles as ignoravam.
O número relatado de falantes do português em Timor Leste varia muito, talvez devido aos diferentes critérios para definir a fluência e talvez ainda por causa dos efeitos dos atuais programas de treinamento na língua.
A ONU relatou em 2002 que somente 5% da população que é de 800.000 pessoas
falava português. No censo de 2004, 36% alegaram ter "aptidão para o português", disse Kerry Taylor-Leech, lingüista da Universidade de Griffith na Austrália, que escreve sobre as línguas do Timor Leste. "Desde a década de 90, pode-se perceber que uma mudança de língua está acontecendo," ela disse "As mudanças em relação ao que eu já vi estão acontecendo bem rapidamente."
De acordo com o censo, 85% dizem ter aptidão para o tétum, 58% para o indonésio e 21% para o inglês.
A nova Constituição estabelece o português e o tétum como as duas línguas oficiais do país, mas tétum é visto como uma língua não desenvolvida e pouco rebuscada (thin), e a maioria dos negócios oficiais do país é conduzida em português.
"Esta é uma decisão política e eu tenho que acatar, quer eu goste ou não," disse a juíza Maria Pereira, funcionária do tribunal do distrito de Dili, que fez um curso intensivo e agora escreve suas sentenças no que ela chama de um português bem razoável. "Eu não tenho escolha. Como juíza, eu tenho que cumprir a lei".
Alguns jovens falantes de indonésio, que a princípio se opuseram ao uso do português, agora dizem adotar a nova língua como forma de enriquecer e desenvolver o tétum. Cerca de 80% do tétum já é composto de palavras emprestadas ou influenciadas pelo português, disse a Sra. Taylor-Leech, embora ela diga que, falar português, dificilmente levará a um aumento deste número.
Outra abordagem vem do presidente José Ramos - Horta, um dos autores da lei referente à língua portuguesa. "Nós temos que repensar nossas políticas com relação à língua", disse ele em entrevista por telefone.
Em um primeiro passo, disse ele, o inglês e o indonésio deveriam se juntar ao português e ao tétum como línguas oficiais. "Eu não vejo problema algum em um país ter quatro línguas oficiais."
Mas o seu plano não para por aí, dando a entender que questões sobre a língua poderiam ocupar o país nos anos que estão por vir.
Assim que eles estivessem acostumados às quatro línguas oficiais, disse ele, "Nós podemos dar ao povo a opção de escolher duas delas como obrigatórias."
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